O Dia do Trabalhador, celebrado hoje, 1º de maio, é tradicionalmente uma data marcada por lutas, conquistas e reflexões sobre as condições de trabalho. No entanto, em tempos de profundas transformações nas relações laborais, a pergunta que se impõe é: o que ainda temos a comemorar?
Nos últimos anos, o mundo do trabalho foi sacudido por mudanças estruturais. A pandemia da Covid-19 acelerou processos que já vinham se desenhando, como a adoção do trabalho remoto, a flexibilização de contratos e o avanço da tecnologia sobre diversas funções. Empresas de diferentes setores passaram a enxergar o home office como alternativa viável, e muitos trabalhadores experimentaram uma autonomia inédita. No entanto, também vieram desafios: o isolamento, a intensificação da jornada e a dificuldade de conciliar vida pessoal e profissional.
Hoje, não há mais como ignorar a pergunta: o que esperar das novas formas de trabalho? O modelo híbrido se consolidará como padrão? Teremos maior valorização da saúde mental e do bem-estar dos trabalhadores? Ou estaremos caminhando para um cenário de precarização disfarçada de flexibilidade?
Ao mesmo tempo em que tecnologias oferecem oportunidades para maior produtividade e mobilidade, elas também impõem o risco de invisibilizar direitos, sobretudo quando o trabalho é mediado por aplicativos ou contratos informais. A “uberização” da economia, embora promova renda a curto prazo, desafia o modelo clássico de emprego com garantias trabalhistas.
Neste 1º de maio, a comemoração não pode se restringir à nostalgia de conquistas passadas. É preciso ampliar o debate sobre o futuro do trabalho com responsabilidade e inclusão. A defesa de direitos, a regulamentação de novas formas de ocupação e a promoção de um trabalho digno devem voltar ao centro da agenda pública?
Porque, no fim das contas, a luta do trabalhador não é contra a inovação — é por justiça e equilíbrio num mundo que não para de se transformar.