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Eduardo Bueno, o Peninha, participa do Flipoços 2025 com irreverência e paixão pela história

Data da Publicação:

01/05/2025

Poços de Caldas, MG – O escritor, jornalista, editor e tradutor Eduardo Bueno — conhecido do grande público como Peninha — foi uma das atrações mais esperadas da programação do Flipoços 2025, em Poços de Caldas (MG). Antes de sua participação no evento, o autor recebeu jornalistas para um bate-papo descontraído, no qual compartilhou reflexões sobre história, literatura, educação, redes sociais e o Brasil contemporâneo, com seu estilo irreverente e provocador, amplamente conhecido através do canal Buenas Ideias, no YouTube. O jornal Mantiqueria esteve presente na coletiva.
“Sou escritor, comecei como jornalista e escrevo sobre a história do Brasil. É isso que move minha carreira. E aqui estou eu, em Poços de Caldas, uma cidade maravilhosa e com uma importância real na história do Brasil, inclusive aqui onde estamos agora, o histórico Hotel Palace”, afirmou logo no início do encontro, contextualizando sua vinda à cidade mineira.
Apesar de sua vasta produção sobre temas nacionais, Bueno foi convidado ao Flipoços 2025 para participar de uma mesa sobre biografias e escolheu falar sobre uma figura que o inspirou profundamente: o cantor e compositor norte-americano Bob Dylan. “Embora meus livros estejam aqui e eu vá autografá-los, vim para falar sobre o Bob Dylan, que tanto influenciou minha vida e minha carreira. Recentemente foram lançados livros sobre ele, e eu vou comentar especialmente ‘A Vida de Bob Dylan em Sete Canções’, da editora Zain, que publica exclusivamente livros de música.”

Do jornalismo à literatura popular
Eduardo Bueno fez história no mercado editorial ao ser o primeiro autor brasileiro a ter quatro obras simultaneamente entre as cinco mais vendidas do país. Questionado sobre seu processo criativo, ele destacou a influência do jornalismo: “Sou jornalista de formação. O jornalismo sempre guiou minha vida profissional. Meu texto é jornalístico, meu olhar é jornalístico. Sempre achei que a história do Brasil, especialmente do período colonial, estava aprisionada nas salas de aula, e o que o público em geral sabia era o básico, aprendido no colégio — e de forma desinteressante.”
Ele lembrou como decidiu mudar essa realidade: “Escrevi um livro que era pretensioso no objetivo — alcançar um grande público — mas despretensioso na forma. Um livrinho de 140 páginas. E deu certo: vendeu mais de 500 mil exemplares. Provou que existe, sim, um enorme interesse em conhecer a história do Brasil contada de forma saborosa, fluente, com linguagem acessível, sem perder o rigor jornalístico.”

O papel das feiras literárias e o desafio da leitura no Brasil
Sobre a importância de eventos como o Flipoços, Bueno não poupou elogios, mas também ofereceu uma análise crítica sobre o cenário da leitura no país. “Essas feiras são maravilhosas, ainda mais em cidades incríveis. Estive recentemente na feira de Tiradentes, que é mágica, e Porto Alegre tem a maior feira ao ar livre da América Latina. Quando o livro vai até o público, é o início de uma transformação”, defendeu.
Mas também apontou os desafios: “Uma pesquisa mostrou que metade dos brasileiros não leu nenhum livro no último ano. Isso revela uma miséria intelectual que se reflete numa miséria política, econômica e até existencial. A escola, infelizmente, é excludente. E quando o livro vai pra praça, como aqui em Poços, ele pode tocar o estudante, mesmo aquele que veio só pra matar aula. Às vezes é ali que o encantamento começa.”

Sugestão de leitura para quem quer entender o Brasil
Indagado sobre uma recomendação de leitura para quem deseja começar a entender a história do Brasil, Bueno foi direto, com seu típico bom humor: “Vou indicar um livro meu, claro. O Brasil: Terra Vista. Um pocket acessível, custa R$ 29,90. É voltado para leitores de 12 a 16 anos, mas qualquer um pode ler. Até aquele que tem dificuldade de leitura, vai gostar — depois pode até se exibir pra namorada. Brincadeiras à parte, é um livro cheio de informações saborosas sobre o descobrimento do Brasil.”
E ele não deixou de problematizar o uso do termo “descobrimento”: “Claro que foi também uma invasão, uma conquista, um processo colonial violento. Mas negar completamente o termo é hipocrisia. Então fale em tupi se não foi descobrimento. Foi tudo isso junto. A história do Brasil é multicultural, e só agora, tardiamente, começamos a contá-la de forma inclusiva.”

Entre o personagem Peninha e o escritor Eduardo Bueno
Ao ser questionado sobre sua presença nas redes sociais, Bueno refletiu sobre seu alter ego, o Peninha: “Primeiro me chamam de jornalista, depois de youtuber… Daqui a pouco vão me chamar de tiktoker! O Peninha é um personagem meio estrambelhado. Às vezes me arrependo de algumas postagens, talvez eu pudesse ser mais comedido e alcançar mais gente com minha mensagem. Mas não consigo me controlar. E o país, com tudo que passou nos últimos anos, com aquela polarização absurda… me tirou do sério.” Ele brinca que é “quase um médico e o monstro”. “Quem escreve é o Eduardo Bueno. O Peninha, às vezes, toma conta. Ele precisa ser controlado, mas nem a deusa Paula, minha mulher, consegue”, disse, arrancando risos dos presentes.

Consciência histórica e o futuro do Brasil
Fechando o encontro com um tom mais sério, Eduardo falou sobre a responsabilidade de conhecer a verdadeira história do Brasil: “Temos que encarar nossa herança. O Brasil foi o país que mais recebeu escravizados na história e o último do mundo ocidental a abolir a escravidão. O genocídio indígena continua. Mas isso não significa apagar a contribuição de brancos, alemães, italianos, japoneses que vieram em situações difíceis. O Brasil é um país multicultural. Precisamos contar sua história com verdade e diversidade.”
Com uma fala ao mesmo tempo divertida, crítica, apaixonada e informativa, Eduardo Bueno trouxe ao Flipoços 2025 mais do que uma palestra: ofereceu uma aula viva sobre como contar — e recontar — a história do país. Entre livros, ironias e verdades, ele reafirma que a leitura ainda é a arma mais poderosa contra a ignorância e o obscurantismo.

Quem é Eduardo Bueno
Como autor da Coleção Terra Brasilis – sobre a história colonial do Brasil, publicada a partir de 1998 –, Bueno tornou-se um dos maiores fenômenos editoriais do país, já que os quatro primeiros volumes da série (A Viagem do Descobrimento, Náufragos, Traficantes e Degredados, Capitães do Brasil e A Coroa, a Cruz e a Espada) venderam quase um milhão de exemplares, fato até então inédito na área de História. Bueno foi o primeiro autor brasileiro a possuir quatro títulos entre os cinco primeiros nas listas de mais vendidos dos principais jornais e revistas brasileiros.
Em 2007, Eduardo Bueno foi o idealizador, roteirista e apresentador da série “É muita história”, levada ao ar pelo programa “Fantástico” da TV Globo. Em 2011, Bueno foi convidado pelo History Channel para apresentar “pílulas históricas” escritas por ele. Em 2022, também pelo History Channel esteve à frente da série documental B de Brasil, como parte das comemorações do Bicentenário da Independência, cuja segunda temporada está em fase de finalização.
Relançou pela Editora Sextante, em 2016 a Coleção Brasilis, que em 2023 teve uma nova edição, agora em formato pocket pela Editora L&PM. Em 2020 publicou pela Editora PIU o livro Dicionário da Independência – 200 Anos em 200 Verbetes. Entre os inúmeros prêmios e menções honrosas recebidas por Eduardo Bueno, estão um Prêmio Jabuti e a Ordem do Mérito Cultural, a mais alta condecoração cultural do país.

PAULO VITOR DE CAMPOS
pvcampos@gmail.com
pvc.mantiqueira@gmail.com
@pvcampos.pvc
@mantipocos

(Com informações da SECOM)

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