O Brasil vive uma mudança silenciosa, porém profunda: o número de nascimentos segue em queda pelo quinto ano consecutivo. Dados divulgados pelo IBGE revelam que, em 2023, o país registrou 2,52 milhões de nascimentos, número 0,7% inferior ao de 2022 e 12% menor que a média observada entre 2015 e 2019, antes da pandemia de covid-19. Trata-se de um movimento que vai além de uma simples estatística — ele reflete transformações sociais, econômicas e culturais que remodelam a estrutura familiar brasileira.
Um dos dados mais emblemáticos dessa pesquisa é a mudança no perfil etário das mães. Em 2003, 20,9% dos nascidos vivos eram filhos de mulheres com até 19 anos. Em 2023, esse percentual caiu para 11,8%. Isso indica uma postergação da maternidade, impulsionada por fatores como maior acesso à educação, entrada da mulher no mercado de trabalho, busca por estabilidade financeira e mudanças nos projetos de vida pessoal.
A queda da natalidade é um fenômeno comum em países que passam por transições demográficas, com implicações diretas sobre políticas públicas. Menos nascimentos hoje significam, por exemplo, um futuro com menor população economicamente ativa, o que pressiona ainda mais o sistema previdenciário. Por outro lado, pode significar a possibilidade de investir mais por criança, com reflexos positivos em educação e saúde.
O desafio está posto: como equilibrar o novo desenho populacional com estratégias de desenvolvimento sustentável? A queda no número de filhos pode ser vista como um retrato de maior autonomia reprodutiva e planejamento familiar, mas também exige que o Estado e a sociedade estejam preparados para as consequências dessa nova configuração.
Planejar políticas públicas diante dessa tendência é essencial — seja para garantir direitos às novas famílias, seja para repensar os rumos do país em um cenário de envelhecimento populacional cada vez mais acelerado.