O relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Bets, apresentado nesta terça-feira (10) no Senado, escancara o lado obscuro do mercado bilionário das apostas online no Brasil. Em 541 páginas, a relatora, senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), detalha um cenário alarmante: práticas de lavagem de dinheiro, evasão fiscal, atuação de organizações criminosas e manipulação algorítmica, com possível fraude de resultados.
Mais do que crimes de colarinho branco, o que se vê é uma engrenagem que mina não só a integridade do esporte, mas também a estabilidade econômica de milhares de famílias brasileiras. O relatório mostra que os jogos de apostas online, ao se tornarem onipresentes em transmissões esportivas e plataformas digitais, passaram a atrair sobretudo os mais vulneráveis – especialmente famílias de baixa renda. O resultado é trágico: diminuição do consumo no comércio tradicional e perda direta de renda para plataformas de apostas, muitas delas sediadas no exterior e fora do alcance da fiscalização eficaz.
Há um evidente descompasso entre o crescimento desenfreado desse setor e a falta de regulação efetiva. As apostas online, que hoje sustentam parte do futebol profissional, operam em uma zona cinzenta que favorece práticas criminosas e aprofunda desigualdades. O Estado precisa reagir – não apenas com investigações pontuais, mas com políticas públicas que enfrentem o problema de forma estruturada.
A ilusão de ganhos fáceis tem custado caro ao país – em credibilidade, em arrecadação e, sobretudo, na qualidade de vida de milhões de brasileiros. É hora de trazer luz a esse mercado e proteger o interesse público. O jogo precisa ter regras claras, mas, acima de tudo, limites.