O boletim Emprego em Pauta, divulgado pelo Dieese, revela um dado inédito e digno de registro: o rendimento médio dos trabalhadores brasileiros atingiu R$ 3.270 no quarto trimestre de 2024, o maior já registrado no país. Desde 2014, os rendimentos vinham se mantendo praticamente estáveis, com exceção da queda brusca durante a pandemia de 2020 e 2021. A recuperação pós-crise sanitária tem sido positiva, e o avanço de 7,5% nos rendimentos médios entre 2022 e 2024 é um sinal claro de aquecimento do mercado de trabalho e melhora no cenário econômico.
Contudo, os números não escondem uma realidade antiga e persistente: a desigualdade. Embora o aumento médio seja motivo de comemoração, ele beneficiou de maneira desproporcional os que já tinham mais. Enquanto os trabalhadores com menores rendimentos viram seus salários crescerem apenas R$ 76 por mês, os 10% mais ricos receberam um acréscimo de R$ 901 — doze vezes mais.
Esse abismo demonstra que o crescimento econômico, por si só, não é suficiente para promover justiça social. É preciso ir além da média estatística e olhar para sua distribuição. Sem políticas públicas voltadas à valorização do salário mínimo, à inclusão produtiva e à formalização do trabalho, continuaremos assistindo a uma recuperação desigual, que perpetua a concentração de renda e limita a mobilidade social.
O recorde de rendimento médio deve ser comemorado, sim — mas com os olhos atentos à urgência de um país mais equitativo, onde o crescimento alcance a base e não apenas o topo da pirâmide.