Poços de Caldas,MG – A solidão na velhice é o mote do espetáculo “A Melhor Idade”, do Coletivo Fanfarra, que emocionou diferentes públicos no último final de semana, no Teatro Benigno Gaiga, no Espaço Cultural da Urca, e emocionou o público presente com risos e reflexões sobre a terceira idade. O espetáculo é um dos ganhadores do Prêmio Benigno Gaiga de Incentivo ao Teatro e, no último sábado (26), mostrou ao público quem é Dona Amélia.
Para a atriz Carine Michelucci, que criou e interpreta a protagonista Dona Amélia, é um grito de independência do seu trabalho. “Sonhei muito com esse dia e me senti contemplada ao ver tanta gente que estava esperando também poder assistir”, afirma. No último sábado, foi possível ver o resultado de toda a construção desse trabalho, que vem sendo reconhecido dentro e fora de Poços de Caldas. “Essa mulher que viveu para um relacionamento, para os netos, para os filhos, se vê sozinha e decide fazer algo pela primeira vez que não foi imposto pela vida ou pelas suas condições. Inicialmente a escolha inusitada de Dona Amélia gera riso entre os presentes, mas no decorrer do espetáculo as pessoas se dão conta de que a história dessa senhora que já não recebe mais visitas da família é trágica. E é nesse pêndulo de emoções que o público se reconhece. Dona Amélia é o retrato de uma pesquisa que venho realizando antes mesmo de começar no teatro. Ela, com esse jeito doce e ácido, acaba contagiando o público a estar presente e se ver no lugar de abandono, já que todos nós nos reconhecemos ali em algum dos atos”, relata Carine.
O diretor do espetáculo, Valber Rodrigues, reafirma que o sucesso vem acontecendo ao longo de várias participações dentro e fora da cidade, como no Festival de Curitiba. Ele acredita que a recepção positiva ocorre por conta deste tema universal. “A temática da solidão, sobretudo da terceira idade, atravessa a vida de todos, seja por vivenciar essa etapa da vida, seja por acompanhar os membros da família que estão passando por ela”.
Sobre a conexão do público com a Dona Amélia, o diretor acrescenta: “Acredito que isso é motivado pelo fato do espetáculo, acima de tudo, tratar das relações humanas, a partir de uma história simples e corriqueira. São muitos os relatos de quem se lembrou de um parente a quem também não faz mais visitas, ou de quem já vivencia essa solidão”.
A atriz ficou emocionada com o carinho do público após a apresentação do último sábado. “O saguão estava tão lotado e uma fila de abraços começou a se formar, bem como reações emocionadas de pessoas que têm pouco costume de frequentar o teatro, como as pessoas surdas, que adoraram estar presentes em um espetáculo acessível, graças a Mayara Sena, que faz a tradução em Libras desse espetáculo, deixando-o ainda mais emocionante”, contou. Além de Carine Michelucci, que assina a atuação e dramaturgia, e Coletivo Fanfarra conta com Valber Rodrigues, que assina a direção do espetáculo e Julia Montezano, que assina a preparação vocal e direção musical.
Temporada de espetáculos
O solo de Carine Michelucci foi uma das apresentações da temporada de espetáculos, que reúne dez apresentações nas linguagens de teatro, dança e circo para os ganhadores dos Prêmios de Incentivo ao Teatro, à Dança e ao Circo da Secretaria Municipal de Cultura.