Poços de Caldas, MG – Os mastros já apontam para o céu azul de maio, no pátio da Capela de São Benedito. Foram erguidos pelos congadeiros no último dia 3. Como manda a tradição, os Ternos de Congos fizeram suas orações e preces na tradicional bênção dos mastros que, em Poços de Caldas, funde-se à celebração do Dia de Santa Cruz, na cerimônia de abertura da Capela de mesmo nome, no Bairro dos Funcionários.
O Dia de Santa Cruz abre a programação cultural da Festa de São Benedito. Na cerimônia de fé, devoção e sincretismo religioso, Mãe Divina, do Terno de Congo Santa Bárbara e São Gerônimo, fez as bênçãos de abertura. Cada Terno de Congo cantou e fez a sua oração, suas preces e agradecimentos. “Nos últimos anos, as pessoas têm reconhecido mais os Congados e os Caiapós, com um público crescente, inclusive na manifestação do Dia de Santa Cruz”, celebrou a presidente da Associação dos Ternos de Congos e Caiapós de Poços de Caldas, Eduarda Carimbá.
Na sequência, os congadeiros seguiram em cortejo, passando pela Basílica para buscar o andor com a imagem de Nossa Senhora do Rosário. Na Matriz, os congadeiros foram recebidos pelo Padre Donizete, que pediu a São Benedito, Santa Efigênia e, especialmente, a Nossa Senhora do Rosário proteção ao lindo trabalho dos Ternos de Congo e para que a Festa de São Benedito seja também um momento de devoção e fé. “A Festa de São Benedito sem vocês não tem o mesmo sentido. Que bom que vocês estão aqui”, disse.
Seguindo para a Capela de São Benedito, os Ternos de Congos foram recebidos pelo grande público que prestigiou a festa na noite do último sábado. Cada Terno de Congo fez sua entrada na Capela de São Benedito. “Que vocês se sintam abraçados e acolhidos nesta casa dedicada ao nosso querido São Benedito. Que ele abençoe cada um de vocês”, disse o Padre Reginaldo, pároco da Paróquia de Nossa Senhora Aparecida, responsável pela realização da festa.
Na Capela de São Benedito, a imagem de Nossa Senhora do Rosário foi coroada. Aos 88 anos, o capitão do Terno de Congo Nossa Senhora do Rosário, Benedito Luiz da Costa, o querido Seu Ditinho, conta que a sua fé começou ainda pequeno. “Meu irmão veio cumprir promessa aqui e eu pequenininho, lá de Botelhos, vinha com ele. Ele dançou por 7 anos. Eu acabei entrando no Terno de Congo e estou até hoje”.
Para fechar a noite, os Ternos de Congos se reuniram para o levantamento dos mastros, momento celebrado com a força dos tambores. Tradição de fé, especialmente em Minas Gerais, o Dia de Santa Cruz remonta à data em que a Cruz de Cristo teria sido encontrada. Em diversos municípios mineiros, a herança cultural de enfeitar as cruzes permanece, especialmente nas cidades históricas.
“Dia 3 é o Dia de Santa Cruz, quando acontece esta manifestação tradicional na Capela de Santa Cruz, no bairro dos Funcionários. Muitas pessoas não conhecem a capelinha, que fica próxima à igreja de Nossa Senhora de Fátima. Aqui acontece a bênção dos mastros e depois os Ternos de Congos seguem até a Capela de São Benedito, para o levantamento dos mastros, abrindo a programação cultural da Festa de São Benedito. É uma celebração muito bonita e simbólica”, ressaltou o secretário municipal de Cultura, Nando Gonçalves.
No ano de 1895, Fernandes José Lopes pediu autorização para construir uma igreja dedicada à Santa Cruz no morro onde, tradicionalmente, havia peregrinações religiosas. A edificação da Capela de Santa Cruz seguiu uma tradição mineira e marcou o início de uma das mais significativas festas religiosas do município: a Festa de Santa Cruz, celebrada a 3 de maio pela Igreja Católica, mais tarde integrada à tradicional Festa de São Benedito.