Poços de Caldas, MG – O jornal Mantiqueira entrevista o prefeito de Poços de Caldas, Paulo Ney de Castro Júnior, que completou recentemente 100 dias de mandato. Na conversa, ele destaca os principais desafios e conquistas desse início de gestão, abordando temas como saúde, mobilidade, economia, turismo, esporte, funcionalismo público e a relação com a Câmara Municipal.
Mantiqueira – Paulo, vamos começar com um resumo destes 100 dias. Como avaliar esse período inicial à frente da Prefeitura?
Paulo Ney de Castro Júnior – Foram 100 dias bastante intensos, cheios de desafios. A gente chegou com uma equipe nova, que passou por um tempo natural de aprendizado, mas também foram dias de muitas conquistas. Logo no início, enfrentamos um grande desafio na saúde, que agora voltou ao domínio da Prefeitura. Já estamos colhendo resultados com mutirões, como o das cirurgias de catarata — foram 600 realizadas em apenas três, quatro meses. E isso vai continuar. Também já estamos realizando obras de mobilidade, trevos em execução e em projeto, além da instalação de câmeras de monitoramento programadas para os próximos meses.
Mantiqueira – A saúde tem sido um ponto muito debatido. O senhor acredita que a situação está nos trilhos?
Paulo Ney – A saúde é dinâmica. Não existe um sistema perfeito, nem no setor privado. Mas temos feito o possível. Mudamos muitos processos e já estamos colhendo resultados, inclusive com economia para o município: gastamos menos do que antes e com um atendimento melhor. A saúde é prioridade, mas quero destacar também o trabalho na educação.
Mantiqueira – Como está a fila de espera e o atendimento atual?
Paulo Ney – A fila de espera sempre vai existir em alguns procedimentos, mas estamos trabalhando para reduzir isso. Em quatro meses de gestão, já realizamos mutirões de cirurgias de catarata e otorrino — áreas que estavam paradas há muito tempo. O foco é melhorar o atendimento, e a saúde financeira do setor também está sendo organizada. Poços, que sempre foi referência em saúde, vai continuar sendo, e melhorando cada vez mais.
Mantiqueira – E na educação, quais são os principais avanços?
Paulo Ney – Estamos passando por um processo de reestruturação muito grande. É algo que não se resolve a curto prazo, mas que já está em andamento com envolvimento de toda a nossa rede. Um destaque importante é o trabalho com crianças autistas, em parceria com a saúde. Em julho, vamos lançar a Casa do Neurodivergente, no Country Club — um projeto muito bacana, com foco no cuidado com as pessoas.
Mantiqueira – Recentemente, foi liberada a continuidade das obras na Avenida João Pinheiro. O que será feito?
Paulo Ney – Vamos dar continuidade ao projeto de revitalização que já vinha sendo feito e que foi aprovado pela população. Houve uma medida judicial que impediu a reforma das calçadas no último trecho, mas agora houve um acordo amigável com a sociedade que havia acionado a justiça, e a reforma vai avançar. O objetivo é garantir acessibilidade, segurança e eliminar o risco de quedas de árvores antigas.
Mantiqueira – E o novo Centro Administrativo, está funcionando como planejado?
Paulo Ney – Foi uma das conquistas importantes nesses primeiros meses. Previmos a mudança até julho, mas conseguimos concluir em abril. Isso gerou um ganho grande: melhor atendimento ao cidadão, mais eficiência nos serviços e melhor comunicação entre secretarias. Agora, o próximo passo é eliminar o papel dentro da prefeitura, algo que já começou em algumas secretarias e deve ser expandido nos próximos meses.
Mantiqueira – O turismo também teve destaque recente com a premiação da cidade esta semana em importante evento na capital mineira. Qual a importância desse reconhecimento?
Paulo Ney – É o prêmio mais importante do estado, promovido pela Associação Mineira dos Municípios. Poços foi reconhecida pela experiência bem-sucedida de concessão dos atrativos turísticos, sendo uma das poucas cidades com menos de 200 mil habitantes a conseguir isso. É modelo para o estado. Preciso agradecer ao ex-prefeito Sérgio, aos servidores da Secretaria de Turismo e à concessionária CITUR, que tem feito um excelente trabalho. A premiação é fruto do esforço de todos.
Mantiqueira – E o esporte? O Ronaldão recebeu jogo recentemente em boas condições. Como está essa área?
Paulo Ney – O estádio é um tema debatido há anos. O gramado estava em péssimas condições. Desde o dia 2 de janeiro, pedi atenção total ao Ronaldão, e conseguimos deixá-lo em boas condições. É importante lembrar que é o mesmo gramado desde 1979. Jogadores, inclusive, elogiaram as condições atuais, que há muito tempo não eram vistas. O estádio agora está apto para jogos da Caldense, do Vulcão e outros eventos esportivos.
Mantiqueira – Como está a relação com a Câmara Municipal? Você sempre falou em diálogo. Isso tem funcionado?
Paulo Ney – Sim. A Câmara tem o papel de fiscalizar e legislar. Os projetos importantes para a cidade têm sido aprovados. Evito entrar em discussões políticas — meu foco é administrar. Os vereadores que querem trabalhar para o bem da cidade têm espaço com o Executivo, independentemente de partido. Mas também é papel do cidadão cobrar a atuação da Câmara. Eu sigo aberto ao diálogo.
Mantiqueira – Vamos falar de economia. Poços vive um bom momento industrial?
Paulo Ney – Sem dúvida. Esta semana inauguramos a Pedra Fundamental da Campack, empresa de origem polonesa que começa as obras imediatamente. São quase 300 empregos na fase de construção e mais 150 diretos após a conclusão. Um investimento de mais de R$ 700 milhões, que vai girar recursos e gerar empregos. Poços tem emprego e continua atraindo empresas. Já temos mais uma empresa prestes a iniciar obras e outra em estágio avançado de negociação. Agora, o foco também está na formação de mão de obra qualificada.
Mantiqueira – E como está a situação dos servidores públicos e dos concursados, diante da Lei de Responsabilidade Fiscal?
Paulo Ney – Poços ficou muito tempo sem concursos. Após o novo estatuto, conseguimos abrir concursos na gestão passada e demos continuidade agora. Chamamos servidores para a Guarda Municipal, priorizamos a Educação — principalmente auxiliares de inclusão, que já estão passando por treinamento. Estamos atentos ao limite da responsabilidade fiscal, mas não podemos deixar a população sem atendimento por falta de servidores.
Mantiqueira – Sobre transporte público: há uma expectativa de mudanças? A tarifa vai cair?
Paulo Ney – Sou favorável ao subsídio e estamos trabalhando nisso desde o primeiro dia. Um novo modelo de transporte público está sendo finalizado e será enviado à Câmara em até 30 dias. A queda no número de passageiros após a pandemia afetou muito o sistema, e estamos buscando uma solução sustentável. Já evitamos que a tarifa subisse para R$ 7, mantendo em R$ 6, e queremos reduzi-la ainda mais. O novo projeto também vai corrigir déficits de horários, principalmente nos fins de semana.
Mantiqueira – Recentemente, a Câmara aprovou uma moção sugerindo que vc tire o ex-prefeito Sérgio Azevedo como presidente do DME. Como o senhor vê essa manifestação?
Poços de Caldas, MG – A Câmara tem o direito de apresentar moções, mas a nomeação do diretor-presidente do DME é prerrogativa do Executivo. Sérgio foi indicado por mim ao Conselho, que aprovou seu nome. Ele é engenheiro, servidor de carreira e ex-prefeito, conhece o funcionamento do DME, que é essencial para a cidade, especialmente no apoio às indústrias. Ter uma pessoa qualificada como ele é muito importante.
Mantiqueira – A escolha do vereador Lucas Arruda como líder de governo na Câmara foi uma surpresa. Por que ele?
Paulo Ney – Pode ter sido surpresa do ponto de vista político, mas para mim foi uma escolha natural. O Lucas está no terceiro mandato, tem experiência e sempre dialogamos muito bem. Ele entende as necessidades do município e tem feito um ótimo trabalho. Executivo e Legislativo precisam se complementar e manter o diálogo — e ele é uma pessoa de diálogo, como eu.
Mantiqueira – Retornando novamente à questão de mobilidade urbana, a gente tem visto mudanças, bastante trevos sendo construídos, o que é importante. E já que a gente está nesse assunto, como é que está a questão das charretes na cidade?
Paulo Ney – Vamos por partes. Primeiro sobre os trevos. A gente tem uma necessidade muito grande de vários, e um bom exemplo é o viaduto na Saturnino de Brito. Ali é um ponto de grande congestionamento, e vale lembrar que é uma rodovia estadual, a Rodovia do Contorno. Temos um compromisso do governador e do vice-governador de executar essa obra. O município se comprometeu a entregar o projeto, e já estamos na fase de contratação. Não é uma obra rápida — é uma das maiores obras que teremos nos próximos anos — mas está em andamento. Eu espero que até o fim do ano a gente consiga anunciar o início das obras.
Mantiqueira – Essa obra da Saturnino de Brito será uma das maiores da cidade?
Paulo Ney – Sim, sem dúvida. E vale aproveitar o gancho para lembrar de outra obra que está em andamento e que não é exatamente de mobilidade, mas de extrema importância: o Hospital do Câncer. A construção já está em nível avançado, e agora estamos buscando recursos para concluí-la. Mesmo que seja necessário usar recursos próprios do município, nós vamos terminar essa obra, que é um sonho antigo de toda a população.
Mantiqueira – Voltando aos trevos, além do viaduto, que outros projetos estão em andamento?
Paulo Ney – Temos o trevo da entrada do bairro Centenário, na Avenida Edmundo Cardillo — já em fase de projeto. Também o trevo da entrada do Bianucci, que é um local com muitos acidentes. Além disso, a avenida Venceslau Brás, que antes era de responsabilidade do Estado, agora está sob domínio do município, o que permite executarmos obras.
Mantiqueira – E há outros trechos planejados nessa região?
Paulo Ney – Sim. Já estamos com projetos para três trevos ali: um na entrada do Itamaraty, outro na Chácara Poços de Caldas, e outro próximo ao CEASA, no Campos Elíseos. Todos estão em fase de projeto, e em breve começaremos a execução. Também temos o trevo na entrada do Conjunto Habitacional. O projeto está pronto e será executado assim que finalizarmos o do Centenário. Todas essas obras são demandas antigas da população. Estamos nos empenhando para tirá-las do papel e iniciar as execuções nos próximos meses.
Mantiqueira – E a respeito das charretes, que é um tema sempre polêmico, como está a situação?
Paulo Ney – É uma questão bastante discutida e, de fato, polêmica. Mas acredito que é uma questão de consciência coletiva. Não dá mais para admitir a circulação de charretes no centro da cidade. Por isso, estamos elaborando um novo projeto — é importante frisar que é um novo projeto, diferente daquele enviado no passado.
Mantiqueira – O novo projeto prevê alguma transição para os charreteiros?
Paulo Ney – Sim. O novo projeto contempla, inclusive, uma ajuda financeira aos atuais charreteiros. Estamos finalizando a discussão junto aos vereadores e representantes da categoria. A previsão é que em, no máximo, 30 dias, esse novo projeto seja enviado à Câmara Municipal para análise e votação.
PAULO VITOR DE CAMPOS
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