Poços de Caldas, MG – Ê Dandara, as meninas te chamaram para abrir os caminhos, saudaram seu legado. Guerreira Dandara, mais de três séculos depois o canto da Orquestra de Berimbau Luizinho Conke lembra que, sim, ainda é tempo de luta, mas o campo é outro. Como força simbólica e histórica, o tradicional Teatro do Palace Casino recebeu, nesta terça-feira (10), o 1° Seminário Municipal de Combate ao Racismo e Promoção da Igualdade Racial de Poços de Caldas.
“Que abolição é essa, Isabel?”, perguntaram todos que se irmanaram na luta antirracista junto com a professora Mariana Aparecida de Carvalho, debatendo o tema central do evento, não para celebrar o 13, mas sim para problematizar o 14 de maio, propondo caminhos para reparação e promoção da igualdade racial. “Houve uma abolição de fato? O que aconteceu com o negro a partir dessa abolição? O que respondemos ainda a partir de toda essa trajetória histórica de escravização?”, indagou a coordenadora da Divisão da Promoção da Igualdade Racial e Étnica de Poços de Caldas, Nanci de Moraes.
“Numa sociedade racista, não basta não ser racista. É necessário ser antirracista”. A frase da ativista norte-americana Angela Davis foi uma das mensagens exibidas durante o evento, que ocupou toda a manhã desta terça-feira, com uma potente programação que uniu valorização da cultura afro-brasileira à reflexão e propostas para combater o racismo. No total, 330 pessoas se inscreveram para participar do seminário.
Uma realização da Rede de Promoção da Igualdade Racial e Étnica de Poços de Caldas, o seminário teve como objetivo debater o racismo estrutural, que ainda é uma realidade no Brasil, e seus efeitos que atingem a vida da população negra diariamente. Afinal, “a coisa tá preta”, provocou Aldo Vieira em seu monólogo que aborda o cotidiano do povo preto.
“Infelizmente, ainda temos episódios lamentáveis de racismo na cidade. Por isso, é fundamental debatermos o racismo estrutural, reverberar a voz da comunidade negra de Poços de Caldas e não só propormos como colocarmos em prática políticas públicas efetivas de combate ao racismo e de promoção da igualdade racial, por uma cidade mais justa e igualitária”, destacou a secretária municipal de Assistência Social, Marcela de Carvalho.
“Quem cede a vez não quer vitória; somos herança da memória”. Os versos de Identidade, de Jorge Aragão, foram lembrados na apresentação musical de Thiago Oliveira e convidados e deram o tom do evento.
O prefeito Paulo Ney afirmou que o município vive um momento histórico no combate ao racismo. “É Poços dando exemplo para Minas Gerais e para todo o Brasil, com a realização desse primeiro seminário, mostrando que a política contra o racismo está sendo executada na prática”, pontuou.
Após a palestra principal “Que abolição é essa, Isabel?”, com Mariana Aparecida de Carvalho, a coordenadora da Divisão da Promoção da Igualdade Racial e Étnica de Poços de Caldas, Nanci de Moraes, apresentou as diretrizes para a construção do Plano Municipal de Promoção da Igualdade Racial. “Eu, como educadora que sou, acredito que as mudanças vêm através da educação. A gente não gosta daquilo que não conhece. Então, é preciso conhecer para poder admirar e, principalmente, respeitar”, refletiu.
Plano Municipal de Promoção da Igualdade Racial
O Plano Municipal de Promoção da Igualdade Racial tem como objetivo principal reduzir as desigualdades étnico-raciais no município, com ênfase na população negra, e é mais uma etapa na consolidação das políticas públicas sobre o tema e da adesão de Poços de Caldas ao Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial (SINAPIR).
Instituído pela Lei nº 12.288/2010 (Estatuto da Igualdade Racial) e regulamentado pelo decreto nº 8.136/2013, o Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial – SINAPIR atua como forma de organização e articulação para a implementação do conjunto de políticas e de serviços direcionados para superação do racismo em todo território nacional.