Audiência pública sobre charretes tem muita discussão e pouca solução

Poços de Caldas, MG – Foi realizada na Câmara Municipal, na tarde de ontem (13), uma audiência pública para discutir o fim do serviço de tração animal nas charretes em Poços de Caldas. Estiveram presentes representantes dos charretistas, do Executivo, comerciantes e da causa animal.

A audiência
A reportagem conversou com o vereador Sílvio Assis, que é contra o fim do serviço de charretes na cidade. Segundo ele, não existem casos de maus-tratos e ele está preocupado com as famílias que ficarão desempregadas caso o serviço seja realmente extinto. Ele destacou que apenas após a audiência é que o projeto pode ser votado, mas destacou ser contra o mesmo. “Nunca escondi que sou a favor das charretes, um meio de trabalho onde pessoas humildes e trabalhadoras sustentam famílias”, destacou o vereador, ressaltando que são 42 famílias que vivem este serviço. O vereador conta ainda que não existem maus-tratos aos animais. “É uma atração centenária em nossa cidade e não ficamos satisfeitos com as respostas dos pedidos de informações que fizemos para o Executivo sobre o fim deste serviço”, destacou. O vereador lamentou que durante a pandemia os charretistas foram atingidos diretamente e o Executivo nada fez para ajudar as famílias. “Eles se endividaram para manter os animais e tomaram todos os cuidados necessários para os animais não morrerem de fome e por algum outro motivo, isso tudo sem a ajuda de ninguém do Executivo”, falou o vereador. Ele disse ainda que cada charretista tem pelo menos quatro cavalos e estes animais são revezados durante o trabalho com os turistas. Ele ainda defendeu que as charretes não atrapalham o trânsito. “Se as charretes atrapalham, a “carruagem” elétrica também vai atrapalhar”, falou o vereador. Para ele é possível implantar as charretes elétricas e manter as charretes com animais. Ele defende ainda um prazo maior para as discussões e acredita que é preciso testes para ver se realmente os novos veículos vão funcionar. “Precisamos saber se realmente vai dar certo, se o turista vai aprovar. Estamos numa cidade turística e eles adoram o serviço, principalmente as crianças”, falou o vereador.

Administração
O Executivo foi representado pelo secretário de Governo Paulo Ney. Segundo ele, tudo que foi discutido na audiência será levado ao conhecimento da administração. O secretário disse que no final do ano um protótipo estará em funcionamento. “É um assunto importante, porém, polêmico, e a Câmara Municipal está de parabéns por promover esta audiência pública, já que é muito importante ouvir todas as partes deste processo de mudança”, disse o secretário. Ele destaca que estão sendo feitas reuniões frequentes com os charretistas e também com os defensores da causa animal e que a finalidade seria sair da audiência com algumas soluções e ideias. “Não é de interesse do município prejudicar nenhuma parte envolvida”, afirmou.

Positiva
Para Marcelo Heitor, presidente da Câmara, a audiência, apesar de ter momentos mais acalorados, foi bastante positiva. “Até mesmo alguns charretistas entendem que a proposta é viável e cabe agora à Câmara Municipal entender todas as demandas aprimorando o projeto, dando prazo correto para que isso aconteça. Seria importante para que eles tenham uma experiência com o protótipo”, disse o vereador.

Charretistas
Francisco Carlos Rodrigues, presidente da Associação dos Condutores de Veículos de Tração Animal, também se manifestou. “Deixamos de trabalhar no período da tarde para vir até a Câmara falar sobre nossa posição. Nosso trabalho é regular, existe há mais de 100 anos e não pretendemos mudar para nenhum outro ramo”, disse Francisco. Ele destaca que os turistas que usam o serviço não concordam com o fim das charretes. O Mantiqueira questionou o que acontecerá caso os charretistas tenham que migrar para as “carruagens elétricas”. Eles disseram que muitos não têm capacidade de dirigir esta carruagem, mas se for preciso não tem muito o que fazer. “Está entregue nas mãos de Deus e ele sabe o que fazer”.

Comerciantes
Vários comerciantes estão ao lado dos charretistas e o Sindicato dos Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Poços de Caldas também se manifestou em apoio à continuidade das charretes, sendo totalmente contrário à extinção da atividade turística proposta pelo Executivo.
O Sindicato justifica a posição dizendo que as charretes nasceram com o turismo, são muito requisitadas pelos visitantes e têm mantido uma tradição cultural. O Sindicato reforça dizendo que o serviço é patrimônio do turismo, como a Thermas, Palace e outras atrações e ainda reitera que há mais de 20 anos que não se criam atrações novas na cidade e as que existem estão abandonadas ou extintas. A entidade concorda com uma adequação no serviço para não atrapalhar o trânsito e quanto à fiscalização em relação aos animais.

Defensores dos animais
Já do lado dos defensores dos animais não existe outra saída para a cidade a não ser a extinção do serviço. Durante a audiência foram relatados diversos casos de maus-tratos e alguns citados na tribuna pelo advogado Rafael Bartok. Foi o momento mais complicado já que ele chamou os charretistas de covardes por ganhar a vida explorando os animais, segundo suas palavras. O presidente da Casa, vereador Marcelo Heitor, preciso pedir para os ânimos se acalmarem para que a audiência seguisse normalmente.
Porém, apesar das palavras duras do advogado, os protetores, mesmo concordando com ele, dizem que não há a intenção de que ninguém fique sem sustento. “Acreditamos que possa haver uma forma sensata de resolver esta questão. Continuamos com a certeza que os cavalos precisam ser libertados desta escravidão de charretes e sabemos que há maus-tratos, isso já foi comprovado por laudo veterinário. É uma tristeza ver os vereadores, muitos deles que receberam votos da Proteção, se manifestando contra o bem-estar animal. Mas, seguimos em frente na luta e, assim como em outras localidades, esperamos que Poços de Caldas faça uma opção pelos bichos”, diz a protetora Delma Maiochi.

A proposta
A proposta encaminhada pela prefeitura ao Legislativo proíbe a utilização de veículos de tração animal para todo tipo de transporte na zona urbana, incluindo carroças, charretes e outros meios de transportes similares, mesmo quando utilizados para uso próprio. Além disso, na matéria, o Executivo informa que o município implementará a substituição do transporte movido por tração animal por transporte alternativo de tração elétrica.
Na justificativa do Projeto, a prefeitura afirma que a medida não tem por finalidade impedir que os condutores de charretes exerçam atividade profissional destinada ao turismo, mas sim exigir que tal atividade não traga prejuízos aos animais e nem atrapalhe o trânsito no município. A administração ressalta, ainda, que serão estudadas alternativas para a realocação dos referidos profissionais.

 

Paulo Vitor de Campos
pvc.mantiqueira@gmail.com
pvcampos@gmail.com