“Não estou preparada psicologicamente para ver um caminhão arrancando minha história daqui”

Poços de Caldas, MG – Adriana Nascimento de Souza fez toda sua vida vendendo lanches na “alameda do lanche”, local que terá que deixar até meados de janeiro por ordem do Ministério Público. Ali Adriana conta que criou seus filhos, gerou empregos, mas que de uma hora para outra não consegue mais dormir pensando no futuro incerto. Ela não sabe o que fazer e conta que quer ser ouvida pelo prefeito. Quer uma saída para o impasse, quer se regularizar e quer seguir com seu ganha-pão. Hoje Adriana conta que não está bem psicologicamente e que está difícil nestes dias ir trabalhar. “Não estou preparada psicologicamente e nem emocionalmente para chegar aqui e ver um caminhão arrancando a minha história e jogando no lixo. É muito dolorido”, conta a comerciante.

“Queria ser ouvida”

Apesar do prefeito dizer que abriu diálogo com os comerciantes, Adriana fala que isto não aconteceu. “O que aconteceu de fato é que recebemos uma notificação dizendo para sair daqui em um curto período de tempo. Ninguém conversou, ninguém veio aqui, só a polícia num ato que, sinceramente, foi completamente desnecessário. A gente não quer criar problemas, a gente só quer uma saída que seja boa para todos os lados”, conta a comerciante.

Diálogo

A comerciante contesta o prefeito quando ele fala que não teve acordo com os comerciantes, mas ela ressalta que para se ter um diálogo sadio, e que leve a algum lugar tem que ser entre as duas partes e não da forma que o prefeito está fazendo. “Diálogo no meu entender é achar uma coisa que fique boa para os dois lados. Chegar e dizer que tem uma determinada condição para você não é certo. Te mostrar 22 opções de locais na cidade, todos longe do centro, e que você tem 48 horas pra dizer para onde quer ir, isto não é diálogo”, ressaltou.

Em entrevista ao Mantiqueira neste domingo, o prefeito disse que disponibilizou 22 locais na cidade para os comerciantes irem por um período de um ano, mas os comerciantes querem uma garantia de que voltam para o centro, o que o prefeito descarta. “Como vamos mudar daqui para os lugares propostos? Um dos locais que nos foi ofertado fica na Rodovia do Contorno. Como vamos tirar esta estrutura daqui e levar até lá? Tem ainda uma outra questão séria. Tenho funcionários que trabalham comigo há mais de 20 anos. Como vou dispensar este pessoal, arcar com todos os direitos deles? A gente está abandonada, vivemos mais de 20 anos nesta situação e agora estamos sendo jogados fora sem nenhuma consideração, não está certo”, destaca Adriana. Ela reclama também da falta de ação do Legislativo. “Um ou outro vereador até veio conversar conosco e tentar ajudar, mas a maioria está aceitando o que está acontecendo e assim fica ainda mais difícil”, destacou. A reportagem perguntou se os comerciantes pretendem fazer algum tipo de manifestação, uma mobilização que ajude a sensibilizar a administração. “Depois que recebemos esta notificação ficamos sem chão, sem saber o que fazer. Estamos apelando para termos uma conversa, que o prefeito nos receba, que seja mais solidário e nos dê uma saída”, disse.

Reforma

Adriana conta que todos os comerciantes sabem que a situação da alameda do lanche precisa mesmo mudar. “Quero deixar claro que não somos contra a reforma, é mesmo preciso que este local seja melhor, fique mais bonito, tenha uma modernidade, mas precisamos ser incluídos neste processo, se nossa situação está irregular, que tenhamos chances de regularizar e seguir com as nossas vidas. Aqui só tem gente honesta, gente que tem família e ficar sem saber como será nosso futuro é sombrio, dói no fundo do coração, não é justo”, lamentou emocionada a comerciante.

Juntos

Sobre a proposta de 22 lugares para irem os comerciantes estão unidos neste ponto. Todos dizem que irão para o mesmo lugar e ninguém admite a possibilidade de serem separados. “Queremos ser ouvidos por eles, nunca fomos chamados para uma reunião. A única vez que conversaram conosco foi para dizer que temos que sair daqui. Isso não é possível, aconteceu sem diálogo”, contou Adriana. “Estamos há 30 anos do lado da prefeitura. Porque nunca nos procuraram? Não pode. Concordo que a situação precisa ser resolvida, mas nos chamem, nos orientem o que temos que fazer. Se nós não adequarmos aí sim”, finalizou Adriana. Ela disse que a esperança é sempre viva e que o prefeito ainda se sensibilize. “Temos esperança de que ele nos chamem para um diálogo. Ele é o prefeito, nós somos o povo”, finalizou.

PAULO VITOR DE CAMPOS

pvcampos@gmail.com