Veruska Matavelli Prata Maziero
Psicóloga- CRP 04/79749
Instagram: @psiveruskamaziero
Dia dos Namorados chegando, entre flores, jantares e declarações apaixonadas, vale a pena olhar com mais atenção para a ideia de amor que carregamos. Será que estamos celebrando o encontro entre dois inteiros ou apenas procurando alguém que nos complete? A clássica metáfora da “metade da laranja” ainda habita o imaginário romântico, mas talvez seja hora de repensar esse conceito. O amor, afinal, pode ser mais potente quando deixa de ser busca por completude e se torna espaço de encontro entre singularidades. Neste artigo, proponho uma reflexão sobre o amor maduro e possível, aquele que acolhe a falta, preserva a identidade e escolhe estar junto sem anular o outro.
A metáfora da “metade da laranja” é uma das mais difundidas quando se fala sobre amor. A ideia de que existe alguém feito sob medida para nos completar soa poética e reconfortante, mas será que o amor precisa, de fato, dessa lógica da completude? A escritora e psicanalista Ana Suy, em seu livro “A Gente Mira no Amor e Acerta na Solidão”, nos convida a questionar essa visão romântica e a enxergar o amor de uma maneira mais realista e menos idealizada.
Quando acreditamos que somos apenas metades em busca de uma parte que nos torne inteiros, colocamos um peso excessivo sobre as relações. Passamos a esperar que o outro preencha nossos vazios, cure nossas dores e dê sentido à nossa existência. Essa expectativa, além de irreal, pode ser sufocante. Ninguém pode carregar tamanha responsabilidade, além disso, muitas vezes, essa busca incessante pela “metade perfeita”, resulta em frustração e sofrimento. O amor não é um remédio para todas as feridas, nem um passaporte para a felicidade absoluta.
Como reflete a Dra. Dagmar Silva Pinto de Castro, psicanalista, mestre e doutora em Psicologia, “amar é estar disponível ao encontro dos vazios”. Em outras palavras, não há relacionamento que elimine completamente a sensação de falta, porque o ser humano, por natureza, é feito de lacunas e desejos que nunca se encerram. Isso não significa que o amor seja menos valioso, mas sim que ele não deve ser encarado como uma fórmula mágica para a completude. Amar, portanto, é reconhecer e aceitar que o outro não existe para nos suprir, mas para compartilhar a vida conosco, com suas próprias lacunas e singularidades.
Suy também nos convida a refletir sobre um ponto essencial: se os amantes fossem duas metades que se fundem, perderiam sua identidade. E para que o amor exista e sobreviva, é preciso espaço para que cada um continue sendo quem é. Um relacionamento saudável não deve exigir que uma pessoa se anule em função da outra. O amor não é sobre fusão, mas sobre encontro. Sobre estar ao lado sem se perder dentro.
Talvez o verdadeiro desafio do amor não seja encontrar a “metade ideal”, mas, aprender a conviver com a própria solidão e, ainda assim, escolher estar com o outro. Quando compreendemos que somos inteiros, ainda que imperfeitos, podemos construir relações mais leves, onde o amor não é um peso ou uma obrigação, mas um lugar de troca, crescimento e liberdade. Afinal, mais do que completar, amar é acolher.