Presidente da Caldense fala sobre decisão de não disputar a Série D do Brasileiro

Poços de Caldas, MG – Esta semana a Caldense anunciou que não vai disputar o Campeonato Brasileiro da Série D este ano. Depois do anúncio feito, as redes sociais viraram ferramenta para ataques diversos à diretoria do clube. O Mantiqueira foi até o presidente Rovilson Jesus Ribeiro ouvir de sua própria boca o que aconteceu. Numa longa entrevista acompanhada de perto pelo vice Luiz Fernando, o presidente destacou que o clube vive uma ótima saúde financeira. Descartou qualquer possibilidade de acabar com o futebol profissional do clube e disse que a decisão foi dolorida, mas necessária.

Mantiqueira – Presidente, a Caldense não disputa a Série D e isto foi noticiado amplamente. Queria saber o lado da diretoria sobre esta decisão, uma explicação mais detalhada sobre os fatos. O que está acontecendo?
Rovilson Ribeiro – A gente tomou essa decisão de coração apertado. É uma decisão difícil, mas ela foi necessária.

Mantiqueira – Por que esta decisão foi necessária? Não tinha outra alternativa de forma alguma?
Rovilson Ribeiro – A gente toca o futebol da melhor maneira possível dentro das nossas condições econômicas. No ano passado disputamos a Série D com poucos recursos e ainda tínhamos uma parceria que nos ajudou a tocar adiante. Infelizmente foi um vexame completo, não conseguimos fazer partidas boas. Felizmente ganhamos a última partida, senão seria uma campanha invicta ao contrário, ou seja, sem vencer nenhuma partida. Foi muito desagradável pelo nome da Caldense, pela camisa da Caldense, pela torcida da Caldense. Ficamos muito chateados com tudo que passou, por isso esse ano a gente optou por não disputar.  Por quê? Para não cometermos o mesmo erro. O erro de montar uma equipe que não tenha condições de representar a Caldense. A parte econômica pesa muito.

Mantiqueira – Mas quanto a Caldense recebe para disputar a Série D do Brasileiro?
Rovilson Ribeiro – A gente recebe pouco mais de cem mil reais e os custos de viagens e hospedagem, e só. Infelizmente as pessoas às vezes não têm noção do custo de Série D.  É um campeonato que a gente não recebe quase nada de recursos da Confederação Brasileira de Futebol. Eles mandam ajuda no transporte das viagens e a estadia, o restante é por nossa conta.

Mantiqueira – Mas o que seria este restante?
Rovilson Ribeiro – Uma folha de pagamento, que mesmo sendo baixa, vai consumir mais de um milhão, custos com manutenção do CT, que não é pouco, além de exames e outras situações envolvendo elenco e comissão técnica. Nós não temos mais recursos financeiros. No futebol os recursos têm que sair totalmente do clube e de alguns patrocinadores, mas é pouco. Aliás, a gente conseguiu evoluir com os patrocinadores este ano e agradeço muito estes parceiros. Quando assumimos em 2017 o dinheiro de patrocínio era muito pouco e hoje aumentou, mas ainda assim não dá. Temos ainda o compromisso fiscal com as nossas contas que  passam pelo conselho, então a responsabilidade é muito grande.

Mantiqueira – As redes sociais incomodam?
Rovilson – Não é questão de incomodar, mas a gente ouve algumas notícias das redes sociais que são completamente infundadas. As pessoas falam que a Caldense tá quebrada entre outras mentiras.

Mantiqueira – A Caldense tá quebrada?
Rovilson Ribeiro – A Caldense tá muito bem financeiramente, vive um grande momento e temos dinheiro em caixa.  Mas não podemos nos descuidar desse equilíbrio financeiro cometendo aí um erro, montando um time que não seja competitivo e gastando dinheiro à toa. Então o motivo é esse. Agora a parte econômica do clube está muito bem, mas algumas pessoas fazem os comentários às vezes por falta de informação. E muitos, grande maioria deles, não são nem torcedores da Caldense e nem associados. Não passam de curiosos, né? A pessoa quando entra numa rede social e se empodera e vai falando o que vem na cabeça. Então a gente filtra, já  que respeitamos os verdadeiros torcedores da Caldense, e os nossos sócios. Claro que ficamos chateados por não disputar o Brasileiro, mas foi necessária esta decisão.

Mantiqueira – Montar um time apenas com jogadores da cidade não seria viável?
Rovilson – Seria uma solução, mas a gente também pensou que esta possibilidade é a melhor solução foi realmente não disputar e fazer uma preparação mais longa para a temporada 2024.
Mantiqueira – Falando em futuro,  quais são as perspectivas?
Rovilson Ribeiro – A gente vem trabalhando desde o ano passado, até já falei com você numa outra entrevista sobre um investimento para transformar  a Caldense em SAF. É o caminho para os clubes. Agora, independente disso e antes de falar do futuro,  temos que terminar o Mineiro.  Estamos na reta final, esperamos que consigamos nos manter numa posição honrosa. Foi um time montado com muito cuidado, chamamos o Gian Rodrigues que fez um ano de 2022 excelente. Ele montou este time, começou a trabalhar em novembro, foi o primeiro time a começar a trabalhar, mas às vezes o futebol não é matemático. Às vezes as coisas não se encaixam. Mesmo com o Gian sendo um excelente profissional, mas como o campeonato é curto optamos pela troca. Veio o Thiago Oliveira, que já trabalhou conosco, um grande profissional também e ele já evoluiu o time, já tivemos uma vitória aí contra o Vila Nova.  Esperamos concluir o Mineiro de forma tranquila. Depois  teremos o jogo da Copa do Brasil contra o Ceará e a gente tá na expectativa que corra tudo bem e possamos mudar de fase.
Mantiqueira – Como anda a questão da SAF?
Rovilson Ribeiro – A realidade é uma só, a Caldense tem um time que todo mundo quer vir para cá. A toda hora estamos recebendo propostas, mas não podemos arriscar entregar o departamento de futebol de uma maneira arriscada. Temos que ter um investidor seguro. Tendo este investidor a Caldense está pronta, o clube é equilibrado financeiramente, temos todas as certidões negativas, então é um procedimento técnico. O básico é o investidor, mas estamos avaliando um negócio seguro e firme para melhorar o futebol, não para piorar.

Mantiqueira – Se a Caldense passar de fase na Copa do Brasil, entra uma grana boa, quase um milhão. Como administrar este dinheiro?
Rovilson Ribeiro -A gente não sabe se vai passar de fase, mas se passar este dinheiro será usado para a montagem do elenco para a próxima temporada. O futebol é dinâmico, a gente não tá parado e também quero deixar claro aos torcedores que ninguém tá aqui desfazendo do futebol, de jeito algum. Estamos empenhando e trabalhando. Agora a gente tem que fazer com responsabilidade.

Mantiqueira – Alguma resposta direta para aqueles que criticam nas redes sociais?
Rovilson Ribeiro – O recado é para eles lerem esta matéria, verem as entrevistas na TV e tomarem conhecimento da realidade. Falar sem conhecimento de causa fica feio, às vezes fica até um ataque pessoal infundado. É preciso saber da realidade e hoje a Caldense tem uma diretoria formada por pessoas sérias, honestas, que sabem o que estão fazendo. A Caldense hoje está super bem na parte econômica.

Mantiqueira – Dizem que a atual diretoria trabalha firme para acabar de vez com o futebol do clube. O que dizer sobre isto?
Rovilson Ribeiro – Iniciamos os trabalhos para o Campeonato Mineiro deste ano em novembro, fomos o primeiro time a iniciar a preparação, chamamos um técnico que havia feito um bom campeonato, demos todas as condições de trabalho.  Onde isto é querer acabar com o futebol? A gente trabalha para o bem do futebol, mas às vezes as coisas não encaixam. Já falei com você e repito. De 2019 para cá a Caldense ficou duas vezes entre as quatro melhores do Campeonato Mineiro. Isto é muito importante, é preciso ressaltar o lado positivo e procurar corrigir onde não está legal. Não podemos fazer nada que saia do controle econômico, temos que ter este cuidado.

Como o treinador aceitou esta situação?
Rovilson Ribeiro – O elenco foi montado para a disputa do Campeonato Mineiro. Acabando o campeonato acabam os contratos. A Caldense sempre trabalhou limpa e honestamente e isto no meu modo de entender não justifica comentários de que o elenco vai deixar de atuar por conta disto. Eles são profissionais e tenho certeza de que o trabalho que está sendo realizado para este jogo contra o Athletic é muito intenso, todos estão focados nisto com a comissão técnica. Tudo aqui é limpo e transparente. O treinador sabe disto.

Mantiqueira – A não participação na Série D vai gerar alguma multa para o clube?
Rovilson Ribeiro – De forma alguma. A Confederação Brasileira de Futebol manda um ofício para todos os times qualificados para a Série D pedindo uma notificação se vai ou não participar até data tal. Se a gente não responder à notificação e após o arbitral tiver a desistência, aí, sim, é multado. Tem uma opção prévia para decidir se joga ou não. A disputa é uma decisão administrativa de cada clube, é ele que sabe da sua condição e se deve ou não participar do campeonato e a CBF respeita isto. A desistência não pode ser depois do arbitral.