Dia Nacional das Tradições das Raízes de Matrizes Africanas e Nações do Candomblé

Poços de Caldas, MG – Tambores e berimbaus ecoaram na Praça Dom Pedro II, na última quinta-feira (21), para celebrar o Dia Nacional das Tradições das Raízes de Matrizes Africanas e Nações do Candomblé, data que visa despertar a sociedade para o fim da intolerância religiosa e pelo fim do racismo.
A Lei Federal 14.519/23, que institui o Dia Nacional das Tradições das Raízes de Matrizes Africanas e Nações do Candomblé, a ser comemorado anualmente no dia 21 de março, foi sancionada em 6 de janeiro do ano passado. A data coincide com o marco escolhido pela Organização das Nações Unidas (ONU) para, anualmente, instalar uma rede intercontinental de conscientização pelo Dia Internacional contra a Discriminação Racial. A data foi escolhida pela ONU em 1966, em memória das 69 vítimas do massacre de Sharpeville, bairro negro da África do Sul.
As crianças brilharam na programação, demonstrando que o fim do preconceito passa pela educação. Apresentaram-se iniciativas como a Orquestra de Berimbau da Escola Municipal Alvino Hosken, do projeto de Incentivo à Cultura Capoeira Cura, do Mestre Luizinho, além de apresentações de capoeira da Casa do Caminho, com mestre Mudinho e do Galpão das Artes, com o professor Robert, e de Congada, da Escola Criativa Idade. “Abraçamos esse evento assim que recebemos o convite e já estávamos trabalhando sobre os temas preconceito e discriminação”, destacou a professora Clementina, da E.M. Alvino Hosken de Oliveira.
O evento é uma realização do Conselho Municipal da Promoção da Igualdade Racial e Étnica, que visa desenvolver ações voltadas para o combate ao racismo, ao preconceito, às discriminações raciais e, sobretudo, às desigualdades econômicas, sociais, políticas e culturais.
“Esta segunda edição do evento foi ótima, com grande envolvimento e participação, principalmente das crianças e escolas. Para o próximo ano, nossa ideia é ampliar a programação para todo o dia, para que mais alunos possam participar e estar conosco. Nosso objetivo é que as pessoas conheçam as religiões de matriz africana, para combater a desinformação e o preconceito”, destaca a presidente do Compiré, Maria Augusta Clementino.
A iniciativa contou com apoio das secretarias municipais de Governo, Cultura e Promoção Social, além do Demutran. Participaram do evento o vice-prefeito Júlio César de Freitas, os secretários municipais de Cultura, Gustavo Dutra, e de Educação, Maria Helena Braga.
“A contribuição desse evento é imensa. Tenho um carinho e um respeito muito grande pelo Compiré, que faz um trabalho maravilhoso, agregado com as crianças, combatendo todo o tipo de preconceito e discriminação e, mais que isso, mostrando a diversidade do nosso povo, que é tão rica”, ressaltou o vice-prefeito, Júlio César de Freitas.
No período da noite, a programação contou com um encontro de membros de terreiros de Umbanda e Candomblé de Poços de Caldas, com a participação da Tenda de Umbanda Santa Bárbara Oya Ogum Guerreiro, com a participação da Mãe Pequena Divina, Ana Cláudia Peregrino e Roberta Victoria Peregrino, e Ogãs Robert, Douglas, Vitor, Carlos Leite, Leonardo e Mestra Ogã Maria Augusta Clementino e do terreiro Ylê de Ogum e Caboclo Girassol, com Doté Jorge de Ògum (Jorge Ferreira da Cunha), Josiel de Ayrá, Doté Carlos de Omolu, Doné Rogéria de Oxum, Dofono Fábio de Oxalá, Dofona Nina de Omolu, Runtó Victor de Oxaguian, Bagigan Jorge de Oxóssi, Ogan Carlos de Ògum, além de Carol e Aldo e da mestra em Cultura Popular pelo Ministério da Cultura, Lúcia Vera.

Histórico
De acordo com a Agência Senado, o candomblé surgiu no continente africano, na região onde hoje se situa a República Federal da Nigéria, e acompanhou as inúmeras levas de escravizados que aportaram o solo brasileiro no século XVI. Proibida e discriminada por séculos, com seus praticantes tendo sofrido prisões e perseguições, a religião fez uso do sincretismo como forma de legitimação, associando os orixás aos santos católicos. Cada um dos orixás possui características e preferências específicas, como danças, comidas, cores, instrumentos e saudações. Os rituais são vivenciados em locais conhecidos como terreiros, casas ou roças. A liderança de cada um dos locais pode ser matriarcal, com a figura das ialorixás (ou mães de santo), ou patriarcal, onde exercem a liderança os babalorixás (ou pais de santo). Há ainda os locais de prática que admitem liderança mista.